"Minh'alma é triste como a voz do sino
Carpindo o morto sobre a laje fria;
E doce e grave qual no templo um hino,
Ou como a prece ao desmaiar de um dia.

Se passa um bote com as velas soltas,
Minh'ahna o segue n'amplidão dos mares;
E longas horas acompanha as voltas
Das andorinhas recortando os ares."

domingo, 15 de agosto de 2010

Vive-se em que mundo?

Dois amigos que haviam acabado de se reconciliar, depois de muitos atritos na amizade por gostarem de uma mesma garota, saíram do shopping e começaram a andar distraídos pela rua, conversando sobre assuntos aleatórios e, consequentemente, distraídos. Pararam para atravessar a rua paralela à que iam pegar o ônibus. Foi quando um sujeito baixinho, mau-encarado, negro do bigode loiro para ao lado dos dois e anuncia o assalto, ameaçando sacar uma arma que nem os garotos sabiam se existia.
Nessa hora, apenas o nervosismo tomava conta do corpo dos dois. Não sabiam o que fazer: se reagiam ou se aceitavam. O sujeito pediu para que atravessassem junto a ele e não tentassem nada porque não estava sozinho e ele não queria reagir também. Quando chegaram ao outro lado, ele simplesmente pediu, e pediu tudo. Eram o celular e todo dinheiro que haviam sido levados. Satisfeito, o sujeito-lorpa os deixou ir e foi-se também.
Ainda afetados pela situação, os amigos encontraram um guarda. Gentil e preocupado, ouviu atenciosamente ao que tinham a contar. Quando terminaram, o homem foi até outro guarda e disse que, infelizmente, não poderia fazer nada além de apoiá-los.
Os amigos se separaram... Um deles foi buscado pelo tio para ser levado para casa e o outro foi ao trabalho da mãe. O medo e um desespero mesclados com revolta tomavam conta do corpo dos dois, mas era preciso superar. O que foi ao encontro da mãe obteve conforto nos braços desta e ouvia as palavras, com ternura, dizendo que o que realmente importava era que ele estava bem. Foi para casa.
Chegando lá, começava a reflexão sobre o ocorrido. O que era medo, desespero e raiva se transformava em indignação. O menino julgava aquela situação extremamente desumana. Não se conformou e assim permaneceu por um bom tempo. Afinal, ser assaltado em pleno Centro da cidade em hora "de rush" era demais para a cabeça dele. Passou.


Eu fico me perguntando em que mundo nós vivemos e com quem o fazemos. Como alguém consegue se satisfazer sabendo que prejudica o outro? É verdade que tudo que vai, volta; que nós colhemos o que plantamos; que tudo tem uma razão para acontecer; mas não dá para passar por tipo de situações como a do texto acima e sorrir, pensando nestas filosofias. Ah, querem saber? É tudo culpa do capitalismo!

5 comentários:

  1. Trata-se de um que distorce tudo, é nesse mundo que vivemos.

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  2. Esse é o melhor texto até agora,realmente ficou muito bom,o final que podia ser um pouquinho diferente.O capitalismo leva a culpa por tudo coitado!

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  3. Infelizmente, é o nosso mundo.
    Mudar ou se adaptar ?

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  4. É tudo culpa do egoísmo, de pensarmos que nossos problemas são os maiores do mundo. O ter acima o ser. Talvez o assaltante não saiba administrar o que roubou e volte a roubar e fique para sempre nesse jogo. Talvez a segurança continue passiva e alheia ao que acontece. Talvez nada disso tenha solução. Talvez.

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  5. Lembrei do que minha avó dizia quando eu sentia medo de uma barata: "ela está com tanto medo quanto você!". Parece bobo, mas é como o assaltante deve ter se sentido.

    Não estou defendendo o cara, mas tudo isso é um grande ciclo e quem mais perde não é quem tem seus bens tomados, mas aquele que é marginalizado pelo resto da sociedade e provavelmente não fará grandes coisas (boas) na vida. Uma pena termos muito disso por aqui.

    Enfim, muito bom o texto! :)

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